top of page

Farmacologia

       Os esteroides anabolizantes exercem a sua ação através de diferentes mecanismos, que incluem a modulação da expressão do recetor androgénico, como consequência do metabolismo intracelular, e por alteração direta da topologia do recetor, bem como interação com co-ativadores. Outros mecanismos incluem o efeito anti-catabólico induzido pela interferência com a expressão do recetor glucocorticoide e incluem ainda mecanismos não genómicos que no SNC são responsáveis pelas alterações de humor. [8]

 

      O mecanismo de ação "genómico" é o mais conhecido e de um modo geral ocorre através de um recetor intracelular que se encontra presente essencialmente nos tecidos do sistema reprodutor, mas também em tecidos como músculo esquelético, osso, cérebro, fígado, rins e adipócitos. Os androgénios sintéticos ligam-se ao mesmo recetor que a testosterona e dihidrotestosterona. [11]

     O recetor androgénico pertence à superfamilia de recetores nucleares e é o responsável pelas ações ditas "clássicas" ou "genómicas" dos esteroides anabolizantes. Nestes recetores é possível encontrar um domínio de ligação ao DNA, um domínio de ligação ao esteróide (ligando) e pelo menos dois domínios de ativação da transcrição. O domínio de ligação ao DNA consiste em dois sub-dominios designados por "zinc-fingers", sendo que cada um deles é constituido por quatro resíduos de cisteína coordenados com um átomo de zinco que estabiliza a estrutura. Os "zinc-fingers" são os responsáveis pela ligação ao DNA, dado que conseguem inserir-se em locais específicos do DNA. [8]

 

       Na ausência de hormona, o recetor esteróide encontra-se sob a forma de um complexo inativo que inclui proteínas do shock térmico (Hsp) Hsp90, p23 e co-chaperones (TPR). O complexo recetor esteróide-Hsp90 é necessário à estabilização do recetor visto que a sua conformação permite a ligação do esteróide a um local de alta afinidade. Por outro lado, este complexo é importante para manter a solubilidade dos receptores no interior da célula. Hsp90 atua como um repressor da transcrição por evitar a translocação para o núcleo, impedir a dimerização e ligação ao DNA, bem como a interação com co-ativadores da transcrição. Quando os esteróides chegam ao tecido alvo, ou seja, tecidos contendo recetores no citoplasma das suas células, ligam-se ao recetor através do domínio específico, causando a dissociação do complexo recetor-Hsp90 e consequentemente a conformação do recetor que fica agora ativo e migra para o núcleo. Uma vez no núcleo, ocorre dimerização, da qual resulta um homodímero que interage com o DNA, seguindo-se a formação de um complexo de transcrição. O DNA é transcrito em mRNA que migra para o citoplasma onde é traduzido pela ação dos ribossomas, sendo sintetizadas assim maiores quantidades de proteínas. Esta alteração pode desencadear alterações celulares a nível de diferenciação, função e crescimento. O aumento da síntese proteica induzido pelos esteróides anabolizantes, em particular pelo estanozolol, é responsável pelo crescimento muscular, tão desejado pelos fisioculturistas. Para além do efeito anabólico, quando em concentrações superiores às terapêuticas, os esteróides anabólicos manifestam um efeito anti-catabólico, por competição com os glucocorticóides pelo seus recetores, havendo uma diminuição do catabolismo de hidratos de carbono, lípidos e proteínas. [8]

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

     Hoje sabe-se que os androgénios também são capazes de exercer efeitos não genómicos, sendo estes independentes da transcrição genética. Estes efeitos, geralmente têm início na membrana plasmática, resultando na ativação de uma cascata reacional a nível citoplasmático.

       O estanozolol tem a capacidade de estimular a síntese de colagénio pelos fibroblastos por um mecanismo que envolve fatores de crescimento.

       Estudo realizados em ratos mostraram a existência de uma proteína com elevada afinidade para o estanozolol (STBP), a nível do reticulo endoplasmático dos hepatócitos. A STBP é constituída por péptidos cuja síntese se encontra sob o controlo hormonal e pode ser saturada pelas doses de estanozolol utilizadas na terapêutica ou consumidas indevidamente pelos atletas. Ao interagir com esta proteína, o estanozolol modula alostérica e negativamente a atividade do carregador de glucocorticóides através da proteína do retículo endoplasmático associada à ligação de glucocorticoides (LAGS). Estudos revelam que esta proteína possui mais afinidade para o principal metabolito do estanozolol (16-β-OHST) quando comparado com o recetor citosólico de glucocorticoides. Como tal,  este metabolito constitui um inibidor alostérico da proteína LAGS, sugerindo que a 16-β-hidroxilação do estanozolol contribui para a modulação da atividade glucocorticoide no fígado.[2]

 

 

Interações

 

     Anticoagulantes: o uso de esteróides, em especial os 17-α-alquilados como o estanozolol, diminui a concentração de fator pró-coagulante, pelo que o seu uso concomitante com anticoagulantes deve ser evitado ou poderá haver necessidade de fazer ajustes de dosagem de anticoagulante com base na determinação do tempo de protrombina. [2]

 

    Hipoglicemiantes orais e insulina: o estanozolol diminui os níveis sanguíneos de glucose, pelo que é necessária uma monitorização apertada de pacientes diabéticos de modo a prevenir crises de hipoglicémia, potencialmente fatais. [2]

 

 

interações

Mecanismo de ação clássico [8]

bottom of page